A freguesia de Carrazedo de Montenegro é historicamente uma das mais importantes do concelho de Valpaços. Localizada no noroeste transmontano, em plena serra de Viduedo, contraforte da Serra de Padrela, Carrazedo encontra-se numa excelente posição estratégica, já que está localizada num local de passagem entre Valpaços, Murça, Vila Pouca de Aguiar e Chaves.
A sua boa localização aliada ao fato de já ter sido cabeça de concelho e julgado medieval possibilitou que se destacasse das restantes freguesias do concelho.
Por falta de documentos escritos não se sabe ao certo a sua origem mas crê-se tratar do povoado bastante antigo, já que se localiza perto de um castro, o Castro de Ribas e existem ainda referências a um castelo medieval, denominado Castelo de Montenegro.
A sua própria toponímia indica que a freguesia deve ter sida povoada muito antes da nacionalidade.
A mais antiga notícia referente a Carrazedo de Montenegro data de 1155, quando Pedro Fernandes fez doação ao Arcebispado de Braga, D. Pedro Peculiar de um "médio casal in Carrazedo". Esta povoação já é referenciada nas Inquirições ordenadas por Afonso III no ano de 1258 e nelas se faz alusão a outras terras então sob a sua jurisdição como Villa Algemiri, Villa Algerici, Rendufi traz Carrazedo.
Carrazedo foi sede de um vasto concelho no século XVII e as freguesias que o compunham estão hoje dispersas pelos municípios vizinhos nomeadamente Valpaços, Murça e Vila Pouca de Aguiar. Já no tempo do rei D. Dinis foi atribuída à freguesia a sua primeira carta foral, datada de 1301, com o nome Vila Boa de Montenegro. O povo acabou por se reunir no lugar de Celeirós, centro do lugar de Montenegro, para aí tomar conhecimento da resolução do soberano acerca da vila que o povo havia solicitado que se fizesse. Mais tarde e derivado da falta de pagamento de rendas estipuladas, e após uma terceira carta foral datada de 1303, no ano de 1034 Vila Boa de Montenegro passou a estar sob alçada de Chaves.
Esta situação acabou por criar quezílias entre Carrazedo e Chaves, o que fez com mais tarde, no século XVII, Carrazedo de Montenegro conseguisse constituir um novo concelho autónomo, do qual faziam parte das seguintes povoações Água Revés e Castro, Alhariz, Argeriz, Canavezes, Carrazedo, Castro, Jou, Moreiras, Nozedo, Padrela, Póvoa de Agrações, Santa Leocádia, Santa Maria de Émeres, S. Pedro de Veiga de Lila, Serapicos, Tazém, Vales e Veiga de Lila, que durou até 1836.
Por fim, em 1853 Passos Manuel extinguiu o concelho e anexou Carrazedo ao concelho de Valpaços. Mais tarde Carrazedo foi elevada à categoria de Vila pela Assembleia da República no dia 18 de Julho de 1990, estatuto que mantêm até hoje.
A atual freguesia de Carrazedo de Montenegro e Curros é constituída pela povoação deste nome e pelas aldeias de Argemil, Avarenta, Cubo, Redondelo, Silva, Ribeira da Fraga, Cabanas, Vale do Campo e Curros.
A sua principal atividade económica e que totaliza um maior número de habitantes é a agricultura, sendo a castanha a atividade que mais peso tem na economia da região. Outras das atividades mais importantes da Freguesia são o comércio, a construção civil, os serviços, a serralharia e a vinicultura.
A castanha é de fato, uma das mais importantes fontes de rendimento da freguesia. A castanha de Carrazedo de Montenegro é exportada em larga escala fazendo com esta que tenha um enorme peso na sua economia, tornando-se numa das atividades mais importantes rentáveis da freguesia. Crê-se que Carrazedo seja um dos maiores produtores e exportadores do país de castanha, sendo por isso que todos os anos e por altura da apanha da castanha, se realize na freguesia a Feira da Castanha, que se pretende divulgar esta atividade.
O cruzeiro de S. Sebastião, localizado na rua Monsenhor Silvino Nóbrega, de construção granítica que está assente num soco bastante alto com três degraus e pedestal decorado. A cruz que o encima representa a imagem de Cristo com os pés sobrepostos, cabeça inclinada e mãos em posição de bênção.
O cruzeiro da Nossa Senhora da Conceição, localizado na rua Torre e aí construído para lembrar o local onde terá existido um templo, que foi destruído durante a construção da atual Igreja Matriz.
Aldeia do Cubo
A aldeia do Cubo situa-se a 5km de Carrazedo, numa fértil zona agrícola que produz essencialmente vinho e castanha. O seu nome parece estar ligado à sepultura rupestre que pode significar também largo e fundo.
O panorama que se disfruta do cimo das suas encostas por onde se estende a povoação é, na vastidão e variedade de aspetos, extremamente curioso. Para além do vinho e do castanheiro, existe também no vale, a oliveira e a amendoeira. E se a nossa visita alonga mais um pouco, vêem-se terrenos férteis cheios de hortaliças e legumes. Ao longe nos montados, o pastor. As cabras deliciam-se com a erva fresca para poderem dar o leite e apetitosos queijos.
No outeiro fragoso, sobressai a capelinha da Nossa Sr.ª dos Milagres com mais de um século de existência, ao lado da qual foi construída outra de maiores dimensões para poder acolher uma multidão de peregrinos que todos os anos aí acorre para ser curada de todos os males.
Aldeia de Argemil
O nome desta povoação deriva talvez de genitivo Algemirus, “Vila Algemiri”. Teria sido, no seu início, possivelmente, alguma casa, com uma quinta à volta pertencente a um rico senhor.
Está situada num contexto geográfico estratégico, usufruindo do cruzamento das estradas de Carrazedo para Chaves e de Vila Pouca de Aguiar para Valpaços. É uma aldeia aberta e airosa. Este carácter é visível por exemplos, nos panoramas surpreendentes que se desfrutam do cimo dos seus miradouros. Ali mesmo ao lado, num monte ergue-se o grandioso castro de Ribas, e por aqui passa a via Romana que leva a Argeriz e atravessa a povoação de cima a baixo.
A principal atividade dos seus habitantes é a agricultura.
Cultiva-se o centeio, a cevada, o trigo, a vinha, a nogueira, as árvores de fruto, o azeite e a castanha.
Aldeia da Silva
É uma das mais importantes povoações anexas à freguesia de Carrazedo. O seu nome deverá estar ligado com étimo latino “ Silva” que tanto pode significar floresta, mata, arvoredo ou conjunto de videiras. Rodeiam-na os vinhedos, os soutos, e os férteis terrenos de cultivo. Contudo a vinha revelou-se bem cedo o “ex-libris” do povo da Silva e o vinho é bem símbolo da simbiose homem homem-natureza.
É de facto por aqui que se mede a grandeza desta aldeia em cada gesto, em cada pausa, em cada mergulhar mais profundo do agricultor sobre a cepa, fonte de riqueza e de fama.
Em tempos idos, foi também célebre a sua enorme lagoa pela quantidade de sanguessugas que comportava e que eram utilizadas no campo da medicina popular.
A indústria artesanal de telha romana, ou de celeiro, deixou de ser fabricada pelos enormes custos que acarretava o aquecimento do forno.
Aldeia de Avarenta
Situada nas duas margens da ribeira que lhe corre ao fundo, a povoação de Avarenta é um exemplo de paz coletiva, de aliciante exotismo. O seu nome deriva talvez do étimo – Avarenta ou Alvareda, espécie vegetal, “alvar” que seria na altura muito abundante aí.
Com um microclima de terra quente, rodeada de oliveiras e pequenos campos floridos de uma vegetação rasteira muito curiosa, a Avarenta mantém como principal e tradicional atividade a agricultura não mecanizada. Devido à fertilidade que lhe advém da ribeira e à sua suavidade atmosférica é uma terra farta em produtos agrícolas, bem como em frutos variados e deliciosos. A grande fonte de riqueza da sua gente é no entanto a oliveira e o seu precioso néctar – o azeite.
Aldeia de Redondelo
Num confronto da Serra da Padrela, do lado de lá do rio de Tinhela, levanta-se a mais recente povoações anexas à freguesia de Carrazedo. Há conhecimento da sua existência a partir de Janeiro de 1842, com a designação de sítio de Redondelo.
Ao princípio, era talvez um casal ou quinta, ao lado da qual se foram construindo mais algumas casas. Pelo facto de nos encontramos numa zona rural, somos levados a ter como principal ponto de referência a vida do campo. A castanha é o produto de maior rentabilidade e a cultura de maior importância. De rara beleza, são muitos os castanheiros multisseculares que ali existem.
Assim, os homens continuam a cavar a terra do nascer ao pôr do sol, longe do profundo drama que a vida representa, à espera que o pedreiro S. Jorge os continue a brindar com os belos animais, sobretudo de raça caprina, e com a não menos espetacular e a enorme castanha judia.
Aldeia da Ribeira da Fraga
Acolhedora e repousante, Ribeira da Fraga é uma pequena povoação que se espraia pelas margens da Ribeira de Valizelos e do rio de Tinhela. No que concerne à origem da designação desta aldeia, ela parece estar ligada à ribeira que ali corre às surpreendentes e soberbas fragas que são verdadeiros monumentos de arte e motivo de espanto para os que ali se deslocam. Encontramos o povo de Ribeira da fraga em estreita união com uma natureza, vivendo de uma agricultura de subsistência e de pecuária, especialmente da criação de gado caprino. O que lhe dá originalidade, o que torna graciosa, simples, musical, são as atrativas e relevantes panorâmicas que regalam a vista e enchem a alma de sonhos, as azenhas, acionadas pela força hidráulica, que se têem dedicado, desde séculos à moagem de cereais, as quedas de água, a heterogeneidade das árvores, o verde dos campos, a pesca do barbo e da truta no rio Tinhela e no de Valizelos.
Aqui, onde o homem se une intimamente à natureza, à terra, à tradição, afastado que está do tumulto e do bulício, existe comunhão necessária do natural com espiritual.
Atualmente existe ponte pedonal, que atravessa o rio, passadiços, miradouro e parque de merendas. Um espaço de lazer inserido em plena natureza.
Aldeia de Vale do Campo
Na aldeia de Vale do Campo existe a capelinha, em honra de Santa Catarina.
Na padieira está inscrito o ano de 1772 que possivelmente representa o ano da sua construção.
Vale do Campo encontra-se na margem esquerda de uma pequena ribeira extremamente declinoso, freguesia de Curros. A principal atividade dos seus habitantes é a pastoria e a agricultura.
Aldeia de Cabanas
Em cabanas encontra-se uma belíssima capela, que devido às suas dimensões e estruturas pode ser classificada como uma igreja. Esta capela foi construída à segunda metade do século XVII, entre 1758 e 1779.
A capela de cabanas foi consagrada a Nossa Senhora de purificação, e o seu dia festivo é a 2 de Fevereiro.
Aldeia de Curros
Curros encontra-se localizada nas margens de uma pequena ribeira, que desce a serra e depois de atravessar esta povoação, conflui com o rio Tinhela. Até 2013, foi extinta (agregada) pela reorganização administrativa de 2012/2013 e o seu território foi integrado na freguesia de Carrazedo de Montenegro e Curros.
O seu santo padroeiro é São Miguel, que tem o seu dia festivo a 29 de Setembro, festa alusiva às colheitas.
Nas margens do seu rio existe um parque de lazer.
Uma senhora de oitenta anos que nasceu e sempre viveu em Carrazedo de Montenegro, contou-nos esta lenda, que em tempos de juventude ouvira dos seus antepassados. Levada pelo professor para a sala de aula, foi depois um trabalho de composição coletiva recriada pelos alunos.
LENDA DA FONTE DA URZE
Os antigos dizem que na fonte da urze há um tesouro e uma cobra. Essa cobra costumava aparecer pela meia-noite, junto da fonte.
Se a essa hora passasse alguém junto da fonte, encontrasse a cobra e não tivesse medo, ela conduzia essa pessoa ao tesouro.
No entanto, já muitas pessoas encontraram a cobra, tendo fugido imediatamente, cheias de medo, pois a cobra não as conduziu ao tesouro.
“LENDA DA FONTE DA URZE”
NARRADOR – A noite caía naquele fim de tarde chuvoso e frio nestas terras do Demo como lhe chamou Aquilino Ribeiro. Fios de fumo negro saíam das casas então de colmo e pedra, escapando-se na procura da imensidão para lá dos montes cobertos de neve branquinha. Dentro de cada lar acendia-se a lareira para fazer b o caldo que era a ceia da família. O lavrador de regresso a casa vai agora no aconchego dos seus descansar do longo dia de trabalho.
Chama os filhos, quere-os ali à sua volta, o mais pequenino nos joelhos e o serão começa com o rodopiar da lã no fuso ou a fazer carpins de lã que com carinho a mãe vai fabricando para matar o frio de um Inverno longo.
O mais novo pede ao avô uma história. E com os olhos presos nas brasas vivas do lume o avô começa:
- Era uma vez uma linda menina que há muitos, muitos anos, ia todos os dias ali à fonte, aquela fonte onde tu vais, João; encher o nosso cântaro de água fresquinha no Verão.
JOÃO – A fonte da urze, avô?
AVÔ – Sim, essa mesma.
JOÃO – E depois?
AVÔ – Um dia a menina chegou da escola, pousou a saca dos livros e sentiu sede, espreitou para o fundo do cântaro mas água não havia. Foi então que apressadamente correu à fonte para beber e encher depois o cantarinho. Bebeu e quando se preparava para voltar ouviu uma voz que dizia: -Olá menina do cantarinho à cabeça, tenho um segredo para te dizer. A menina olhou e viu junto daquela urze muito grande que está perto da fonte um bonito cavalo branco, mas coitadinho… tinha enrolado a volta do pescoço uma serpente com cabeças.
JOÃO – O que é uma serpente, avô?
AVÔ – Uma serpente é assim como uma cobra muito grande. Algumas são venenosas. Se morderem alguém matam.
JOÃO – E a serpente mordeu a menina?
AVÔ – Não, espera ainda não acabei.
Oh! Disse a menina. Que queres tu?
CAVALO – Eu escolhi-te para te contar a minha história. E sabes porquê? Porque és muito corajosa.
MENINA – Então conta, lindo cavalo branco.
CAVALO – Eu era um jovem príncipe e tinha sete reinos. A feiticeira má por me ter recusado a casar com a filha mais nova transformou-me neste cavalo branco que tu vês. Os meus (reinos) transformou-os nesta grande serpente com sete cabeças que representam os meus sete reinos. E para que tenham medo de mim, enrolou-ma à volta do pescoço.
MENINA – Coitado de ti, como te posso ajudar?
CAVALO – És assim tão corajosa?
MENINA – Sou, eu nunca tive medo.
CAVALO – Bem, então se assim é vais ouvir-me com atenção. Vou dar-te esta faca encantada. Só ela pode matar a serpente que se enrola a mim.
Durante sete dias a esta mesma hora tu virás à fonte, trazes a faca e dizes assim:
Com esta faca encantada
Sete golpes eu vou dar
Na cabeça das serpentes
P`ro príncipe libertar
Não te podes enganar, nem dizer a ninguém o que vens fazer à fonte. Depois pegas na faca, cortas a cabeça a uma só serpente e foges sem olhar para trás.
MENINA – Está bem, assim farei. Vais ver que tudo corre bem.
AVÔ – Durante sete dias a menina correu à fonte da urze e em cada dia cortava uma cabeça da serpente, fugindo rapidamente para casa sem olhar para trás.
AVÔ - No oitavo dia a menina foi à fonte para ver o que tinha acontecido e o que havia ela de encontrar?
MENINA - Encontrei um bonito rapaz que me esperava junto à urze. Era afinal o príncipe a quem eu quebrei o encanto.
PRÍNCIPE – Salvaste-me e eu vou recompensar-te. Na tua casa haverá sempre fartura e muita alegria.
AVÔ – A menina voltou para casa feliz por ter ajudado aquele amigo.
NARRADOR – Mas a feiticeira má continua a transformar príncipes em cavalos brancos, reinos em serpentes com sete cabeças e assim na fonte da urze lá anda um cavalo que espera a ida à fonte de uma menina corajosa.
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